quarta-feira, 2 de março de 2011

A CATATUA VERDE

A peça de Schnitzler no D. Maria II



A ideia é brilhante. Um grupo de antigos actores, na véspera da Revolução Francesa, improvisa uma espécie de psicodrama com um público de aristocratas, avído de "turismo inter-classista", na Taverna de Prospère (Luís Miguel Cintra), "A Catatua Verde". Aí, masoquisticamente, esse público antecipa, pelo menos em palavras, o tratamento que lhes está reservado pelos revolucionários.

Mas os ideais destes últimos sofrem ao mesmo tempo, no teatro, aquela metamorfose que no futuro e na vida real os tornará irreconhecíveis. A confusão entre o palco e a vida permite-nos observar como é natural a traição desses ideais e como, a certa altura tudo vale o mesmo. A declamação de Henri (Ricardo Aibéo) torna-se real no assassinato do duque de Cadignan (João Grosso), não por qualquer justiça de classe, mas por ciúme, e não podemos deixar de pensar nessa outra mortífera eficácia das palavras característica do Terror e que consumou a última das traições : o massacre dos princípios pela intriga e pela mais desumana das práticas políticas que culminou com o mútuo extermínio dos revolucionários.

A peça, de Arthur Schnitzler, termina com uma apropriada citação de Heiner Müller: a Revolução é a máscara da Morte, a Morte é a máscara da Revolução.



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