sexta-feira, 18 de março de 2011

A INTERPRETAÇÃO DOS RITOS


Ernst Cassirer (1874/1945)


E estas tendências (dos ritos) são traduzidas em movimentos – em movimentos solenes rítmicos ou danças selvagens, em acções rituais ordeiras e reguladas, ou em violentas explosões. O mito é o elemento épico na vida religiosa primitiva; o rito é o elemento dramático. Devemos começar por estudar o último para compreendermos o primeiro. Tomadas em si mesmas as histórias míticas de deuses e heróis não nos podem revelar o segredo da religião, porque elas não são mais do interpretações dos ritos.”


“The myth of the State”  (Ernst Cassirer)



“A consciência não é o todo; é apenas uma pequena e evanescente fracção da vida psíquica.” (ibidem)

Não é isto que nos custa a admitir, embora nessa pequena fracção se jogue o que nos distingue enquanto humanos. É que não vemos a relação entre aquelas histórias e o nosso corpo ou o nosso psiquismo profundo.
A música é o que mais se aproxima do esclarecimento desse problema, porque todos podemos exercer a imaginação a partir dela.

É menos reconhecido, embora faça parte duma implícita “sabedoria das nações”, para não falar da espiritualidade oriental, que os nossos pensamentos podem ser influenciados pelo movimento ou pela posição do  corpo. Alain dizia que um homem sentado não pensa da mesma maneira do que um homem de pé. Ora as histórias são um encadeamento de representações e o seu modelo original pode estar no encadeamento da dança… “Aquele que conhece o poder da dança habita em Deus” (Mualana Rumi, poeta persa, citado por Cassirer)

É por isso que só quem praticou o rito pode ser iniciado. O homem de joelhos e com a  cerviz baixa faz “aparecer” o deus.

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