Ernst Cassirer (1874/1945) |
“E estas tendências (dos ritos) são traduzidas em movimentos – em movimentos
solenes rítmicos ou danças selvagens, em acções rituais ordeiras e reguladas,
ou em violentas explosões. O mito é o elemento épico na vida religiosa primitiva; o
rito é o elemento dramático. Devemos começar por estudar o
último para compreendermos o primeiro. Tomadas em si mesmas as histórias
míticas de deuses e heróis não nos podem revelar o segredo da religião, porque
elas não são mais do interpretações dos ritos.”
“The myth of the State” (Ernst Cassirer)
“A consciência não é o todo; é apenas uma
pequena e evanescente fracção da vida psíquica.” (ibidem)
Não é isto que nos
custa a admitir, embora nessa pequena fracção se jogue o que nos distingue
enquanto humanos. É que não vemos a relação entre aquelas histórias e o nosso
corpo ou o nosso psiquismo profundo.
A música é o que mais
se aproxima do esclarecimento desse problema, porque todos podemos exercer a
imaginação a partir dela.
É menos reconhecido,
embora faça parte duma implícita “sabedoria das nações”, para não falar da
espiritualidade oriental, que os nossos pensamentos podem ser influenciados
pelo movimento ou pela posição do corpo.
Alain dizia que um homem sentado não pensa da mesma maneira do que um homem de
pé. Ora as histórias são um encadeamento de representações e o seu modelo
original pode estar no encadeamento da dança… “Aquele que conhece o poder da dança habita em Deus” (Mualana Rumi,
poeta persa, citado por Cassirer)
É por isso que só
quem praticou o rito pode ser iniciado. O homem de joelhos e com a cerviz baixa faz “aparecer” o deus.
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