Gilles Deleuze (1925/1995)
Uma das mais apaixonantes questões abordadas na entrevista a Gilles Deleuze (1988/89) é a do nível de entendimento de, por exemplo, uma noção científica como a relatividade.
Porque é evidente que ninguém esgotará a profundidade de uma questão, nem mesmo um especialista, sendo que a especialização, a partir de um certo nível, é ela própria um obstáculo à compreensão do que liga uma tal noção a coisas como a linguagem e a cultura.
Pelo que todos, sem excepção, têm de assumir a responsabilidade, até certo ponto, de falarem do que não sabem.
Por outro lado, Deleuze chama a atenção para o facto da ignorância sobre música, digamos, não ser um obstáculo a uma emoção autêntica.
"De certa forma, a questão não é já compreender. Nas minhas aulas, nas aulas que dei, era evidente que as pessoas compreendiam uma parte e não compreendiam outra. Um livro é assim para todos. Compreendemos uma parte, outra não."
Isso explica, naturalmente, para além do facto de nós mesmos mudarmos, que o mesmo livro possa ser uma revelação cada vez que voltamos a ele.
Se temos de falar é, pois, como diz o filósofo, "no limite da própria ignorância."
Aquilo de que precisamos saber depende do nosso interesse, do que queremos fazer.
De certo modo, todas as ideias estéticas ou científicas podem ser postas a dialogar umas com as outras. Um linguista ou um filósofo encontrarão aí alimento para o seu trabalho e a sua paixão.
E então, o importante não é compreender a teoria da relatividade, mas ter dela uma ideia suficiente.
Deleuze refere-se à opinião de alguns matemáticos que tendo lido a sua obra disseram: "Para nós, isso funciona."
E isto corresponde já, não é verdade, a uma troca de posições. Porque aqui são os matemáticos que têm de ignorar algo da filosofia para a traduzirem em termos da sua arte.
3 comentários:
deve ser interessante... quero saber mais...
deve ser interessante quero saber mais
Ver aqui parte da entrevista:
http://www.youtube.com/watch?v=Uxcdrid0Rsw
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