segunda-feira, 2 de junho de 2008

O FILAMENTO DA LÂMPADA



"Mas voltemo-nos agora para os partidários de Kuhn. Para eles, não existe realidade, à excepção da que é observada e criada pelo paradigma. Duvido que Kuhn ficasse feliz por ser apelidado de "idealista" - raramente os filósofos o são actualmente -, mas o seu realismo é muito mais leve que o de Popper. Não há nada além do que é filtrado através da nossa percepção ou do nosso pensamento, e isto, de certo modo, significa que não existe nada fora dessa percepção e desse pensamento."

"O mistério de todos os mistérios" (Michael Ruse)


Este prurido em relação ao idealismo tem de ser explicado. Por aqui passaram, naturalmente, os sarcasmos de Marx contra os filósofos da escola de Berkeley.

Mas eu duvido que seja justo acusar o nosso bom bispo de uma interpretação tão afastada do bom senso que não fosse motivada pela polémica. Afinal, ele só antecipa o que Hume diz sobre a percepção que é, na sua opinião, a única realidade que podemos conhecer.

Não se pode concluir da teoria do paradigma que não existe nada fora dele, a não ser que o nada seja o informe ou o incognoscível.

Devemos admitir à partida infinitas dimensões do não-humano que não existem para nós nem chegam, portanto, a ser um problema do conhecimento.

A maravilhosa correspondência entre o nosso pensamento e o universo pensado é afinal o mais natural possível e basta a ideia da evolução para que faça todo o sentido.

Se a rede da razão parece abarcar toda a realidade é porque o nosso habitat foi quadriculado a três ou quatro dimensões desde que interagimos com o mundo e recebemos o legado dos que nos antecederam.

Mas é claro que se a nossa casa é o Ser, como queria Heidegger, o nosso habitat é menos que um electrão no filamento de uma lâmpada.

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