Uma notícia de "O Público" sobre o efeito perverso dos exames nacionais ("há um enfoque "desproporcionado" na Língua Inglesa, na Matemática e nas Ciências, enquanto as outras disciplinas são negligenciadas.") e a pressão dos alunos para aprenderem apenas o que pode sair nos exames, não quererem compreender, mas "só saber como se faz", nem sequer "terem aberto as obras de leitura obrigatória e ainda assim responderem ao exame" fazem-me lembrar um outro efeito perverso, relatado no programa da BBC "The Trap", dos objectivos de eficiência, para os serviços públicos, fixados pelo governo de Blair, com hospitais a negligenciarem os doentes só para atingirem as metas, ou convocando-os na época de férias para reduzir as listas de espera.
O paralelismo é pertinente, porque tanto num caso como noutro se trabalha para a estatística e se parte do princípio que os indivíduos podem ser controlados através do seu comportamento intrinsecamente egoísta. Como cada qual luta pelo seu próprio interesse, o melhor é tirar partido dessa "lei", através de critérios de medição "objectivos" da sua eficiência, em vez de esperar deles coisas ultrapassadas como o sentido de dever e de responsabilidade, para não falar do altruísmo.
Porque é evidente que se interessa ensinar apenas em função do que vai sair nos exames, é porque estes não são suficientemente representativos das várias disciplinas e da matéria de cada uma e também porque o professor é já um parâmetro estatístico, entalado que está entre o prémio e o castigo em função de resultados práticos elevados à categoria da evidência científica, tal como nas empresas, de resto.
Ora, se num mundo em acelerada evolução, o importante é que os alunos aprendam a pensar (e o legado cultural é aqui indispensável, porque se aprende mais com os erros dos que nos antecederam do que com as verdades feitas), a habitual lamúria de que a escola não prepara os alunos para o mundo do trabalho é um grande equívoco.
E aquilo que distingue a escola duma empresa percebe-se claramente do que Deleuze disse do professor, citando a sua própria experiência: as aulas devem ser ensaiadas, uma e outra vez, a fim de que possam surgir os 5 ou 10 minutos de inspiração que modificam a vida de um aluno.
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