quinta-feira, 19 de junho de 2008

PEDIR O IMPOSSÍVEL


William O'Brien arrested
(http://www.jamd.com/image/g/73650319)


"A violência, sendo instrumental por natureza, é racional até ao ponto em que é efectiva no alcançar do fim que a justifica. E uma vez que quando agimos nunca conhecemos com alguma certeza as consequências do que estamos a fazer, a violência só pode manter-se racional se perseguir objectivos a curto prazo."

"On violence" (Hannah Arendt)


A verdadeira maldade tem então de ser racional, ou cairia na categoria das consequências indesejadas e não previstas da acção humana.

Como nem sempre podemos reconhecer o erro, porque é fácil encontrar justificações para o fracasso das nossas razões, a violência, neste caso, e por aquela definição, também não é racional.

Arendt cita as palavras de um agitador irlandês do século dezanove, William O'Brien: Às vezes "a violência é a única maneira de assegurar que o apelo à moderação é escutado."

Este é um paradoxo do tipo: "se queres a paz, prepara-te para a guerra."

No entanto, tem todo o sentido, se pensarmos que antes de haver condições para pensar é preciso que se estabeleça alguma espécie de ordem e de silêncio. Que isso se consegue muitas vezes com um murro na mesa, é da sabedoria das nações.

Mas esta outra frase encerra o segredo daqueles actos políticos que nos parecem, as mais das vezes, confusos e até de todo negativos: "Pedir o impossível para obter o possível nem sempre é contraproducente."

Na verdade, frequentemente, ninguém sabe o que é possível, nem mesmos os governos, e o resultado de um "braço de ferro" social ou político é quase sempre imprevisível, pelo menos em democracia.

Claro que os protagonistas não podem pensar que o que reivindicam é impossível sem, ao mesmo tempo, moralmente se enfraquecerem. Por isso, preferem, geralmente, suspeitar nos que se lhe opõem os piores motivos, a desonestidade e até a vontade de injustiça (uma consequência da chamada justiça de classe) para obter o possível com toda a "superioridade moral" que podem.

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