"Na Alemanha, por exemplo, ouvi dizer em 1932 a um militante sindical, para justificar a inércia dos sindicatos: Nós estamos em perfeita segurança na condição de nos mantermos tranquilos; porque o capitalismo, ele próprio tem necessidade dos sindicatos para funcionar, e os hitlerianos não vencerão se permanecermos estreitamente unidos com o Estado. Este estado de espírito, que era então geral, mostrava que o sindicalismo alemão não era já um movimento popular, mas uma mera administração que constituía uma engrenagem no funcionamento quotidiano do regime."
"A propos du syndicalisme - unique, apolitique et obligatoire" (Simone Weil)
Na altura em que foi escrito este artigo, discutia-se, em França, o "Statut du Travail" que, para Simone Weil, apesar da posição patronal, que leva à conta do humor, poderia significar o fim do sindicalismo francês.
Alerta para a transformação dos sindicatos em alfobres de advogados especializados, por força dos novos mecanismos de arbitragem e critica a indexação dos salários, da qual a CGT fazia, então, um cavalo de batalha, por reduzir ainda mais o papel dos sindicatos.
A degradação das organizações sindicais no administrativo é uma consequência do seu sucesso. Claro que onde as quotizações não são obrigatórias, o sucesso está sempre em risco. Mas será isso suficiente para os precaver de um "desvio empresarial"?
Por outro lado, é preciso entender o papel de engrenagem no regime de um modo não simplista. A democracia precisa de sindicatos inertes que respeitem as formas de um "contrato social" e de sindicatos "reivindicativos" que não as respeitem e que, pelo menos na aparência, coloquem até um desafio ao próprio regime.
A democracia precisa de ambos e, nesse sentido, os dois tipos de sindicalismo se podem tornar administrativos.
A outra questão (a indexação) é igualmente muito interessante.
É frequente, com efeito, criticar-se esse mecanismo do ponto de vista aqui assumido. Mas isso equivale a dizer que a função sindical é perfunctória, visto que podia ser suprida com êxito e maior segurança, neste caso, através duma actualização salarial automática. O único inconveniente é o de que os sindicatos ficariam "desempregados". Há melhor exemplo de uma organização que se tornou o fim de si mesma?
Recusar a indexação nestes termos parece, pois, uma atitude simplesmente defensiva, como é, por exemplo, a rejeição liminar dos acordos de empresa.
É verdade que tudo isto reduz o papel dos sindicatos, mas isso só significa o "fim do sindicalismo" se este não enxergar para além das necessidades da organização e não procurar criar as novas funções de que necessita como de "pão para a boca".
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