http://www.dicadeteatro.com.br/borelliprocesso.htm
"O Processo desempenha um papel dominante. A prisão de Joseph K., a opacidade dos tribunais, a sua morte literalmente bestial, são o abecedário das nossas políticas totalitárias. A lógica lunática da burocracia posta a nu pelo romance é a mesma das nossas profissões, litígios, vistos e práticas fiscais, mesmo no cinzento-claro do liberalismo."
"Paixão Intacta" (George Steiner)
Nada do que acontece a Joseph K. é a vida. A narração dos passos que tem de dar, as pessoas que tem de ver e as formalidades que tem de cumprir mostram-nos um homem precisamente separado da vida, num tempo que não é o da biografia. Ele tem de se deslocar de uma casa para outra num jogo de xadrez perdido à partida.
O processo judicial que cai sobre a personagem não é uma preocupação entre outras, de que se possa descartar recorrendo, por exemplo, a um advogado. Em primeiro lugar porque toda a gente trabalha para o tribunal e porque os advogados são os servidores da Lei que o escolheu para o papel de culpado, na mesma lógica da dizimação.
Não há como escapar ao poder da Lei e tudo finalmente o compromete, mesmo um lapsus linguae (numa aplicação penal da psicanálise).
É por isso que o adjectivo totalitário encontra neste romance a sua máxima expressão.
Mas Steiner fala de uma lógica lunática da burocracia presente na própria democracia. E se é assim, como as grandes organizações e os erros do sistema judicial parecem comprová-lo, é a liberdade individual que está em causa que nenhuma democracia pode por si só assegurar.
De resto, não há democracia automática e sem vida política autêntica.
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