segunda-feira, 2 de junho de 2008

O ASSASSÍNIO DE TROTSKY


"The Assassination of Trotsky" (1972-Joseph Losey)


Ramon Mercader (Alain Delon), no filme de Losey, é uma criatura de nervos fracos e presa de dúvidas dilacerantes. A preparação do assassinato, através da sua ligação com Sylvia Ageloff (Romy Schneider), a secretária de Trotsky, é um tempo cheio de hesitações e de combate interior que a amante, ignorando completamente os motivos, leva à conta do mau humor ou da doença psíquica.

No último plano do filme, Mercader reivindica a glória de ter morto o grande homem, e tudo parece explicar-se, passando a "encomenda" de Staline para segundo plano, face a este perverso desvio do executor.

O Trotsky (Richard Burton) de Losey é um velho um tanto pomposo, cercado pela premonição da morte, que o realizador torna demasiado óbvia com as cenas da morte do toiro na arena. No seu refúgio mexicano, o herói da Revolução vive no meio dos seus discursos que os altifalantes erguem como outras paredes pela casa (como Glória Swanson, revendo os seus velhos filmes, em "Sunset Boulevard", de Billy Wilder). No seu testamento, ditado para o gravador, define-se como revolucionário, marxista, materialista dialéctico e, por isso, irreconciliavelmente ateu.

Há demasiados círculos de história e de crítica das ideias entre nós e as personagens para este caso não ser visto no cenário de uma alucinação colectiva.

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