quinta-feira, 12 de junho de 2008

A NOÇÃO DE VALOR



"Será seguro que alguma coisa tenha um valor? Não será tudo igualmente sem valor? Uma tal questão é vazia de sentido, não somente porque não pode haver um método para procurar a resposta, mas por uma razão mais profunda. O poder de colocar uma tal questão repousa inteiramente sobre o poder de juntar palavras; mas o espírito não pode verdadeiramente colocar essa questão; não pode verdadeiramente estar incerto sobre se a noção de valor é ou não uma coisa fictícia. Porque o espírito é essencialmente, sempre, de qualquer maneira que seja disposto, uma tensão para um valor; não pode considerar a própria noção de valor como incerta, sem considerar como incerta a sua própria existência, o que lhe é impossível."

"Quelques réflexions autour de la notion de valeur" (Simone Weil)


O pensamento mais original da filósofa encontra neste texto uma das suas mais claras nascentes.

Sem dúvida que é visível a influência de Platão e de Descartes neste dualismo que nenhuma ambiguidade vem obscurecer.

O método da física (da necessidade platónica) não pode aplicar-se ao domínio dos valores (do Bem). O que ela diz é que o espírito não pode ser coisa, nem objecto de medida. Mas que, em vez disso, é ele que julga a coisa em função da sua própria lei.

Não crendo em si, não pode ser essa "tensão para um valor" de que fala Simone e torna-se mera existência, tal como as operações possíveis de uma calculadora não são espírito em nenhum sentido.

O "poder de juntar palavras", por outro lado, é a causa mais frequente de se "tomar a nuvem por Juno". A definição não faz a coisa. E podemos descrever um bicho de sete cabeças que só exista nas palavras.

Isso quer dizer que nem todas as perguntas que podemos formular correspondem a problemas reais (um pouco no sentido da objecção de Wittgenstein) e que a filosofia se deverá distinguir da opinião e da logomaquia por partir da realidade dos problemas.

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