"Podia acontecer até que ele, no fundo, esperasse o meu convite para poder decliná-lo. Todos os actos defensivos em relação aos outros ou a mim mesmo que eu pude observar em Musil pareceram-me sempre duma justeza infalível. "
Musil morreu aos 62 anos a fazer a sua ginástica diária e, segundo o testemunho de Martha, a sua mulher, com um sorriso irónico nos lábios.
Ulrich, o herói de "O Homem sem Qualidades" (HSQ), nem nos momentos de maior descrença deixou de cuidar da sua forma física.
Era uma pessoa fria, susceptível em extremo, que se impacientava com os raciocínios confusos ou incompletos, com o vago e a imprecisão, em suma, era o mais anti-romântico que podia ser.
Martha protegia-o dos encontros que o pudessem irritar ou magoar a sua sensibilidade eriçada.
Mas era tão considerado desde a publicação do HSQ que os amigos e admiradores se quotizaram para lhe permitir escrever.
Fazer parte dessa sociedade benemérita era um privilégio que o próprio Musil controlava com todo o zelo do grande conceito em que tinha o seu opus magnus.
Pensar que estes encontros e esta vida intelectual que Elias Canetti nos relata eram ainda possíveis em meados dos anos trinta e iriam ser cobertos pela treva em tão pouco tempo!
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