sábado, 7 de janeiro de 2006

O GUME AFIADO DO ERGO


Robespierre (1758/1794)


"Primeiro cidadão - As nossas mulheres e os nossos filhos reclamam pão, nós vamos alimentá-los com a carne aristocrática. Hey! Morte a quem não tiver o casaco roto!

Todos - Morte! Morte!

Robespierre - Em nome da lei!

Primeiro cidadão - A lei, o que é isso?

Robespierre - A vontade do povo.

Primeiro cidadão - Nós somos o povo e nós queremos que não haja lei, ergo, esta vontade é a lei, ergo em nome da lei não há mais lei, ergo à morte!"

"A morte de Danton" (Georg Büchner)


Esta peça, em que os Franceses do século XVIII citam, a todo o momento, os heróis de Tácito e de Tito Lívio, parece trazer um flagrante desmentido ao "mot" de Karl Marx sobre a história acontecer primeiro como tragédia e se repetir depois como farsa.

Os companheiros de Robespierre podem ter sonhado repetir as virtudes da república romana e seguir como modelo os Brutos e os Catões, mas não deixaram de viver a primeira grande tragédia dos tempos modernos.

O facto de ela se ter decidido por argumentos homicidas e em espaços fechados, desviados da sua primitiva função (o refeitório dos dominicanos que serviu de sede aos Jacobinos), aproxima-a ainda mais do teatro sangrento.

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