"A Inglesa e o Duque" (2001-Eric Rohmer)
"Eu digo-vos, se não lhes derem tudo sob a forma de cópias inábeis etiquetadas em teatros, concertos e exposições de pintura, eles não têm olhos nem ouvidos. Se alguém talha uma marioneta dependurada na ponta dum fio que a faz gesticular e cujas articulações rangem a cada passo em pentâmetros jâmbicos, que personagem, que lógica!
(...) Eles esquecem o seu bom Deus pelos seus maus copistas."
"A morte de Danton" (Georg Büchner)
Uma das surpresas de "A Inglesa e o Duque", de Eric Rohmer, foi a utilização como cenário e fundo da acção da cidade de Paris, tal como era reproduzida nas gravuras da época.
À partida, ninguém diria que esse artifício iria funcionar, contribuindo até para dar ao filme um suplemento de autenticidade histórica e a dimensão teatral do "huis clos" da Revolução Francesa.
A reconstituição do passado parece exigir que se abandone a pretensão à integralidade que nunca é possível, de qualquer modo.
E renunciar, assumidamente, a uma das suas dimensões (neste caso, o cenário, mas podia ser a luz ou o som), torna a evocação mais verdadeira, mais próxima da memória que, como se sabe, é selectiva.
Na peça de Büchner é a própria linguagem que transforma o material histórico. Temos aqui ideias e tipos de humanidade em violento confronto. E embora nenhuma das personagens pudesse falar com esta poesia, esta concisão e este tempo dramático, é tudo verdadeiro.
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