quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

RETRATAÇÃO DE UM LOUCO



O episódio da cova de Montesinos é a ponta duma meada que, se puxada, transformaria o romance dum louco que se toma por um cavaleiro andante, no de uma espécie de revolucionário que se serve da loucura para ver o mundo todo torto e a exigir a força do seu braço.

Com efeito, Cervantes, sem se comprometer nessa interpretação que endossa a Cide Hamete Benengeli, o pseudo historiador de quem retoma a narração, sobre os fabulosos eventos de que D. Quixote teria sido testemunha no fundo daquela caverna, diz: "Tu leitor que és prudente, julga conforme te parecer, que eu não devo nem posso mais, posto que se tem por certo que na altura da sua morte dizem que se retratou dela e disse que a tinha inventado, por lhe parecer que convinha e quadrava bem com as aventuras que tinha lido nas suas histórias."

E foi a única vez em que D. Quixote se revelou inconsequente.

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