terça-feira, 3 de janeiro de 2006

A FÉ DE EISENHOWER


Dwight Eisenhower (1890/1969)


"A nossa forma de governo, dizia o presidente Eisenhower que era um espírito prático, não faz sentido se não se fundamentar numa fé profunda - e não me interessa qual."

"O fogo sagrado" (Régis Debray)


Se a religiosidade está por detrás de todas as ligações de grupo, quer este aparente a forma laica quer a clerical, a religião propiciaria o eixo meta (vertical) de integração na humanidade e no cosmos, reclame-se ela duma verdade revelada, ou, por exemplo, da ideia do Progresso (*).

Este modelo tem a vantagem de integrar o homem todo, também no que tem de colectivo e de irracional, sem ser apenas uma ficção moralista.

Alguns leitores de "Deus: um itinerário" criticaram Debray por não ter em conta a sua experiência profunda, ao falar de Deus como um mediólogo.

É claro que nenhuma teoria pode dar conta da intimidade duma consciência.

Mas para mim o que fica desta leitura apaixonante é a pergunta: qual é a diferença entre a justificação de Deus pela forma do homem e o problema da verdade de Deus?

A religião pode ser a especificidade humana dum instinto gregário de comunhão, existente sob outra forma no mundo animal. Mas um instinto pensado já não é um instinto.

Debray pode ter escrito a obra que a época pedia. Porque este é um tempo crepuscular, em que chegam ao fim as grandes ilusões que nasceram com a Revolução Francesa e o progresso da Ciência.

Mas não há aqui nenhuma nova fé, nenhuma nova esperança ( e não é possível construir nada sem elas).

Apenas o olhar seco de lucidez de que fala Torga para definir a velhice (com o choro sem razão).

(*) "Nenhuma outra ideia, das que se referem à ordem dos factos naturais, se aproxima mais da família das ideias religiosas do que a ideia de progresso nem é mais adequada para se tornar o princípio duma espécie de fé religiosa para aqueles que não têm mais nenhuma. Como a fé religiosa, também ela possui a virtude de revelar as almas e os caracteres. A ideia do progresso indefinido é a ideia duma perfeição suprema, de uma lei que domina todas as leis particulares, de um fim eminente para o qual todos os seres devem convergir na sua existência passageira. É, portanto, no fundo, a ideia do divino (...)

Cournot

1 comentários:

TR disse...

Olá José, não sei como vim aqui dar, mas perdi-me em algumas leituras dos seus posts. Voltarei. Um bom ano para si!