"Os sete samurais" (1954-Akira Kurosawa)
Só se pode pôr nas nuvens um filme como "Os sete samurais". É incomparável.
Eu escolho, entre tantos, o momento em que Kyuzo ( Seiji Miyaguchi), o samurai asceta, volta na manhã seguinte com as armas que capturou atrás das linhas e, depois de duas palavras: "- Matei dois", se encosta a uma parede para dormir.
O grupo que o esperava em ânsias segue, de pé, todos os seus gestos num religioso silêncio. A admiração colectiva é depois expressa pelo mais jovem: - "Tu és grande, Kyuzo. Há muito que to queria dizer!"
Mas a figura do camponês-samurai, Kikuchiyo ( Toshirô Mifune), um diabo que está em todo o lado, espalhando alegria e coragem, que na sua simplicidade interpreta sentimento de todos e confronta cada classe com a sua verdade, é outro prodígio.
Tudo se harmoniza, a violência dos combates e a humanidade requintada das personagens, num verdadeiro estado de graça criativo.
No final, o ronin ( Takashi Shimura) profere a moralidade dessa luta entre samurais e bandidos a que falta o amanhã.
Apesar de terem derrotado os inimigos da aldeia, a vitória não pertence aos samurais, mas aos camponeses, porque eles têm a terra.
E o futuro dos samurais parece representar-se naquela floresta de túmulos com que acaba o filme.
Na verdade, os samurais fazem parte do mesmo mundo dos bandidos.
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