sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

AS DUAS FUNÇÕES DA BELEZA

"Ex nihilo" (www.doubtfulpalace.com)


"A alegria e a dor são dons igualmente preciosos; é necessário saborear uma e outra integralmente, cada uma na sua pureza, sem procurar misturá-las. Pela alegria, a beleza do mundo entra na nossa alma. Pela dor, entra-nos no corpo."

Simone Weil ("Espera de Deus")


Mais uma vez, o universo em Simone Weil não nos é estranho, não é um espaço insondável povoado de mundos e objectos com os quais nada temos a ver.

A acta de nascimento do homem não assinala o princípio de nada.

Não querer ver a nossa dimensão cósmica e o que ela implica na vida de cada um é um erro, mais aparentado com o da aparente destituição do antropocentrismo no reconhecimento de que descendemos do macaco, do que com a criação ex nihilo, descrita no Génesis.

O mito de Adão e Eva conserva, através da ideia de Deus, uma ligação indirecta ao universo, na imagem da Criação.

A teoria de Darwin, que é cientificamente irrefutável, enquanto faz parte duma polémica com o sentimento religioso, prova mais do que tem legitimidade para fazer. De facto, o elo com as outras espécies deveria antes levar-nos à condenação de todo o antropocentrismo.

Ninguém como SW nos faz sentir que somos filhos do universo, pressupondo uma relação diferente daquela que existe entre a parte e o todo.

Pela beleza, aderimos ao que a nossa inteligência não alcança e participamos daquilo de que parece que o corpo nos separa.

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