"Pulp fiction" (1994-Quentin Tarantino)
O que há de novo em "Pulp fiction"?
O nível da ficção anunciado não parece caucionar uma retórica da violência, que é comum a tantos outros filmes, mas o que mais nos desconcerta nesta mistura de temas e de citações cinéfilas que não se espera encontrar num filme de gangsters.
E é de facto impossível defini-lo como uma comédia, mesmo se nenhuma personagem é levada a sério.
A cena em que Chris Walken explica ao pequeno Butch o currículo anal do relógio paterno que, com toda a solenidade lhe vem entregar, é irresistível e dá o tom ao filme.
A conversão de Samuel Jackson em pregador miraculado dá-nos uma versão escatológica da "estrada de Damasco" paulina e transforma, com muito humor, a palavra "inspirada" (na verdade, fanática) numa continuação, por outros meios, do homicídio encomendado.
Terminando o filme (e é uma pirueta formal que talvez sugira que os maus nunca morrem) a cena do genérico, interrompida, continua a posteriori, como se, entretanto, Travolta não tivesse sido, mais uma vez, apanhado com as calças na mão.
Uma "mise en scène" brilhante.
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