sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

TUDO É NÚMERO



"A ideologia das modernas sociedades parlamentares, se a tiverem, não é o humanismo, os direitos do sujeito. É o número, o contável, a contabilidade. Espera-se de cada cidadão que seja conhecedor dos números do comércio externo, da flexibilidade da taxa de câmbio, dos desenvolvimentos do mercado de acções. Estes números são apresentados como o real por meio do qual outros números são processados: números do governo, das votações e das sondagens de opinião. Aquilo a que se chama a 'situação' é a intersecção da numerabilidade económica com a numerabilidade da opinião."
"Numbers" (Alain Badiou)


Percebe-se que não é o "tudo é número" pitagórico que aqui está em causa. Pelo tom, adivinhamos que o moralismo não anda longe.

E, no entanto, por que deveríamos estranhar, com o número, o império do económico, a "última instância" que determina tudo o resto?

Decerto não vivemos em tempos românticos para supor que as sociedades modernas se sustentam em valores sentimentais e que a nossa intuição pode lidar com a "estática e a dinâmica" das grandes organizações, enfim, com esse mundo global da velocidade electrónica.

Na incerteza, no perigo, recorremos sempre à simplificação militar. Não é o exército a própria imagem do homem feito número? É o que significa, certamente, o moderno "tudo é número" ( ou melhor, tudo é dinheiro ).

Fizemos todos, com alguma idolatria da ciência e da tecnologia, a aprendizagem necessária para entendermos doravante a sociedade como um sistema artificial, regido pelas leis que qualquer "técnico" em ideologia de massas lhe queira atribuir.

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