domingo, 15 de janeiro de 2012

INSPIRAÇÃO

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Edward Gibbon (1737/1794)


"Mas depressa se chegaria à conclusão de que a vã tentativa de misturar cores tão discordantes e de reconciliar tão inconsistentes qualidades, deveria produzir uma figura mais monstruosa do que humana, a menos que fosse vista na sua própria e distinta luz, pela cuidadosa separação dos diferentes períodos do reino de Constantino."


"The History of the Decline and Fall of the Roman Empire" (Edward Gibbon)



O carácter de Constantino, idolatrado pelos cristãos que chegaram ao ponto de fazer dele um santo, odiado pelo partido vencido que o julgava fraco e vicioso, indigno da grande tradição romana, não pode ser julgado, segundo Gibbon, pelo que o homem era, para uns e outros, num dado momento, mas recorrendo ao que foi a sua vida, a sua experiência e a evolução das suas ideias. É o esboço do que mais tarde se chamaria de processo histórico.

Gibbon diz ainda que um povo eufórico pelo orgulho duma vitória ou acabrunhado pelo infortúnio não está em condições de julgar da sua verdadeira situação. Assim, os Romanos caminhavam para o irremediável declínio no auge do seu domínio do mundo. A decisão do imperador de abraçar o cristianismo inaugurava o triunfo dum novo sistema com outros princípios e resultava na perda de crédito dos anteriores princípios.

Agora, desço em voo picado das alturas gibbonianas, para o "nariz" da Europa como lhe chamava Giscard D'Estaing que foi, um tempo,  presidente da república francesa. 

Não estamos nas melhores condições para julgar do nosso futuro, por melancolia de origem político-financeira. Nem queremos ouvir o conselho de Gibbon de que o "processo" é que dá a justa medida do que se passa.

Precisamos de grandes doses de passado histórico para nos reequilibrarmos. Na altura em que se vendem os dedos, depois dos anéis, não temos quase outros "tesouros na terra" além da nossa coragem. A inspiração para esta, como sabia Simone Weil, não pode estar no presente, que não se sabe o que é (o "voo do pássaro de Minerva" ainda não aconteceu) e muito menos no futuro que pode ser qualquer coisa.

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