quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

TITÃS


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Giulio Romano (Palazzo del Tè, Mantova)
 


"Este escritor célebre era com efeito demasiado inteligente para compreender em que perigosa situação o homem se meteu a partir do momento em que deixou de procurar a sua imagem no espelho dos riachos, para a procurar nos estilhaços cortantes da sua inteligência."
 
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
 
 
A Natureza já não é a mesma desde a invenção do microscópio. Não digo do telescópio porque não é a mesma coisa descobrir, no céu,  que há mais estrelas e galáxias atrás das que vemos a olho nu,  e descobrir que as coisas que nos circundam e o nosso próprio corpo têm infinitas aparências, das quais escolhemos a que convém à nossa dimensão.
 
Na verdade, a imagem no espelho já não era simples. Porque sem o social e o "outro" não haveria imagem. Mas podíamos reconhecer-nos como parte de um todo que existia fora de nós e independentemente de nós. A dificuldade que apresenta esta independência era resolvida, por exemplo, com o mito da criação "à imagem" de Deus.
 
Mas agora, à procura da nossa identidade, lançamos sondas para o céu e para dentro de nós, com os "estilhaços cortantes da nossa inteligência". 
 
A tarefa é, de facto, titânica (embora nos devamos lembrar que foram os deuses que venceram os titãs).

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