"Não
devemos esquecer que a atitude exacta é, no fundo, mais religiosa do que a
atitude estética;"
"O Homem
Sem Qualidades" (Robert Musil)
Em nome de quê quereríamos que uma
descrição fosse perfeita? Basta-nos que seja útil para o fim em vista.
Basta-nos que um auto de notícia, por exemplo,
reporte os factos essenciais para o apuramento de responsabilidades. Não
me interessa saber quem é que bateu à porta no momento em que o autor iniciava
o 2º capítulo do seu romance (e lhe pode ter feito mudar de perspectiva).
Claro que, nesse sentido, o desejo de exactidão, nunca pode ser
satisfeito, devemos contentar-nos com aquela que é possível com os nossos
instrumentos. Antes da revolução científica, aquele desejo podia permitir-se não poucas ilusões.
A exactidão arrasta-nos para a
dialéctica da fé e da dúvida que faz lembrar, de facto, a experiência
religiosa.
Pelo seu lado, a estética não tem nada de problemático. É o estado
paradisíaco. Isto parece um exagero diante de escolas como o expressionismo e o
"kitsch", ou um filme de terror. Mas devemos lembrar-nos de que
seriam grandes antídotos contra o tédio no Paraíso.
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