segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

EXACTIDÃO




"Não devemos esquecer que a atitude exacta é, no fundo, mais religiosa do que a atitude estética;"

"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)


Em nome de quê quereríamos que uma descrição fosse perfeita? Basta-nos que seja útil para o fim em vista. Basta-nos que um auto de notícia, por exemplo,  reporte os factos essenciais para o apuramento de responsabilidades. Não me interessa saber quem é que bateu à porta no momento em que o autor iniciava o 2º capítulo do seu romance (e lhe pode ter feito mudar de perspectiva).

Claro que, nesse sentido,  o desejo de exactidão, nunca pode ser satisfeito, devemos contentar-nos com aquela que é possível com os nossos instrumentos. Antes da revolução científica, aquele desejo  podia permitir-se não poucas ilusões.

A exactidão arrasta-nos para a dialéctica da fé e da dúvida que faz lembrar, de facto, a experiência religiosa.

Pelo seu lado, a estética  não tem nada de problemático. É o estado paradisíaco. Isto parece um exagero diante de escolas como o expressionismo e o "kitsch", ou um filme de terror. Mas devemos lembrar-nos de que seriam grandes antídotos contra o tédio no Paraíso.

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