segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

OS CÉRBEROS

Cerberus123
camphalfblood.wikia.com


"Quando esta crença se esgotou, para a qual não há justificações nem cobertura, a bancarrota não pode tardar; as idades e os impérios desabam como os negócios quando o seu crédito se esgotou."

"O Homem Sem Qualidades" ( Robert Musil)




Milhões de utilizadores do livre-arbítrio não fazem uma comunidade. Sem algumas crenças comuns (que estão longe de se confinarem às directamente religiosas, pois que, como diz Musil, até para apertarmos os botões do casaco, precisamos de acreditar que isso faz algum sentido), não existe sociedade. 

O deus do crédito tem, pois, a mais vasta das jurisdições. O que é mais peculiar nos tempos que correm é que o cepticismo, o qual como filosofia é essencial ao progresso do pensamento, e, nesta qualidade, não pode minar a base das crenças mais comuns, se tornou numa espécie de antídoto para as "crendices" do liberalismo doutrinário.

Temos então órgãos internacionais (mas sobretudo amigos do dólar e do império declinante em que têm a sua sede) que se dedicam a semear e a amplificar o descrédito. Qualquer projecto de futuro é, assim, morto à nascença. As próprias ideias se retraem na paisagem desolada. 

Os banqueiros que nos governam descobriram, com as agências de notação, o demónio que destrói a "galinha dos ovos de oiro". Se os bancos vivem do crédito, não lhes podemos augurar um grande futuro com o seu estratagema.

É claro que existe um lado ideológico pelo qual podemos ver os banqueiros como vítimas e que talvez seja o mais verdadeiro. A ideia de avaliar os riscos do investimento é tão racional como a de avaliar, por exemplo, por parte da empresa, o mérito dum trabalhador. O problema, neste caso, é que a avaliação é um dos parâmetros do desempenho. Quando funciona ( porque em muitas casos é um pro forma burocrático que, subjectivamente, justifica a "injustiça") pode "encorajar" aquele que, de qualquer modo não precisava de "estímulos" e desencorajar todos os que se sentem injustiçados.

É um dado adquirido, em todas as ciências, que o observador influi na observação. Podemos viver com erros científicos com esta origem, mas não podemos ter uma economia de mercado que não se defenda de "avaliadores" apostados em destruir o crédito.

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