terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ABRACADABRA

(Francisco Goya)


"Os economistas vêem as coisas com demasiada simplicidade", escreveu Keynes, "em tempos conturbados contam-nos que depois da tempestade vem a bonança. Mas numa situação como esta não ajuda muito apontar para uma tendência a longo prazo - a longo prazo, estaremos todos mortos". 


(John M. Keynes, citado por Reinhard Blomert)



Uma tendência económica a longo prazo é algo impossível de prever, como 'a contrario' o demonstraram tanto as profecias de Marx como os cálculos de Alan Greenspan, o homem da Reserva Federal.

Ficam as tendências a curto e a médio prazo, as quais, sem nenhuma certeza, podem ser objecto de leituras contraditórias: "já se vê a luz ao fundo do túnel", ou "temos ainda para décadas".

Se alguém estivesse seguro duma tendência não precisava de errar. Quero crer que poucos são os que mentem neste caso. Não sabem, muito simplesmente. Por isso resta-lhes a fé numa doutrina, na pura sorte, ou na intervenção do Espírito Santo. Era pelo menos o que pensava J.K. Galbraith: "Tal como é convencionalmente ensinada, a economia é em parte um sistema de fé, cujo propósito não é tanto revelar a verdade, mas mais fortalecer a confiança dos que dela comungam nos dispositivos sociais estabelecidos. (ver João Rodrigues in "Ladrões de Bicicletas" de 8/1/2012)

Tanta informação e ciência, tanta tecnologia e sofisticação não nos conseguiram tirar desta ignorância e desta obscuridade. Mas claro que se pode sempre construir “máquinas paranóicas” a funcionar ao lado da realidade, ou de costas voltadas para ela. O sistema financeiro e o da dívida pública e privada é uma dessas máquinas. Funciona se funcionar só para alguns, até se transformar num problema político. 

É isso que, parafraseando um dito célebre, faz com que os novos feiticeiros quando se cruzam na cidade não possam conter um sorriso cúmplice.

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