sábado, 28 de janeiro de 2012

A DECLARAÇÃO


 
"E, apesar disso, esta simples página impressa, que pesa mais do que bibliotecas e que é mais forte do que os exércitos de Napoleão, não é obra de espíritos superiores, nem tem a marca da garra do leão. O selo da clareza Cartesiana está ali, mas sem a lógica, a precisão, a inteireza do pensamento Francês. Não há nela  indicação de que a Liberdade é o objectivo, e não o ponto de partida, isto é uma faculdade para ser adquirida, e não um capital para investir, ou que dependa de inumeráveis condições, que abrangem toda a vida do homem. Por isso, é justamente acusada de defeituosa e os seus defeitos têm representado um perigo e uma armadilha."

 
"Lectures on the French Revolution" (Lord Acton)

 
A página em causa é a "Declaração dos Direitos do Homem". "A Declaração passou no dia 26 de Agosto, depois dum debate apressado e sem ulterior resistência. A Assembleia que tinha abolido o passado no princípio do mês, tentou, no final, regular o futuro." (ibidem)

De facto, o "processo revolucionário" tem sempre carácter de urgência, como dizia Daniel Filipe, a propósito do amor.

Já foi um grande progresso o texto original, de Lafayette, ter sido reduzido à sua forma "ilógica e imprecisa" nas palavras de Acton. A Declaração começa por um apelo a Deus, o que a tornou logo exportável para a América puritana que, ainda hoje, invoca Deus nos seus dólares.

No entanto, com todos os defeitos que lhe podem ser assacados, essa folha de papel mudou o mundo para sempre. Outra questão é perguntarmo-nos por que é que um discurso cuja ideia mais insistente é o princípio da igualdade convive, sem qualquer embaraço, com a desigualdade extrema.

Uma primeira abordagem pode levar-nos a dizer que aquela insistência teve um carácter temporário e de ocasião ( tratava-se, apesar de tudo, de acabar com o Privilégio aristocrático) e que são precisamente os defeitos apontados por Acton que lhe permitem, hoje, suportar a contradição dos factos.

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