quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

PROMISCUIDADE



"Era, como ele tinha pensado, um quarto de arrumações.
Velhos formulários inutilizáveis, tinteiros de pedra vazios jaziam espalhados pelo chão atrás da entrada. Mas no quarto em si, com o aspecto dum armário, estavam três homens, agachados sob o tecto baixo. Uma vela fixada numa prateleira iluminava-os. '- O que é que vocês estão a fazer aqui?", perguntou K., calmamente, mas zangado e sem pensar."

"O Processo" (Joseph Kafka)




K. saía tarde do escritório, nesse dia, quando daquelas bandas ouviu alguém suspirar. Eram aqueles três homens à espera de castigo por parte do juiz de instrução, por causa da queixa apresentada por K.

A promiscuidade da situação é hilariante e Kafka foi o primeiro a rir. Mas a lógica do "Processo" não tem nada a ver com o raciocínio normal de qualquer um de nós. Tem mais a ver com a sintaxe dos nossos sonhos ou com a dos contos infantis.

Assim, não temos nenhum critério para distinguir onde se encontra K. " realmente", se aquela promiscuidade é a maneira usual das coisas se misturarem quando sonhamos, ou se as cenas se passam fora da cabeça da personagem.

Tudo começa por um enigma, como o da esfinge de Tebas, para acabar na tragédia, como no final incompleto deste romance, ou com a precipitação da esfinge e o desenrolar do destino de Édipo.

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