"Era, como ele tinha pensado, um quarto de arrumações.
Velhos formulários inutilizáveis, tinteiros de pedra vazios jaziam espalhados pelo chão atrás da entrada. Mas no quarto em si, com o aspecto dum armário, estavam três homens, agachados sob o tecto baixo. Uma vela fixada numa prateleira iluminava-os. '- O que é que vocês estão a fazer aqui?", perguntou K., calmamente, mas zangado e sem pensar."
"O Processo" (Joseph Kafka)
K. saía tarde do escritório, nesse dia, quando daquelas bandas ouviu alguém suspirar. Eram aqueles três homens à espera de castigo por parte do juiz de instrução, por causa da queixa apresentada por K.
A promiscuidade da situação é hilariante e Kafka foi o primeiro a rir. Mas a lógica do "Processo" não tem nada a ver com o raciocínio normal de qualquer um de nós. Tem mais a ver com a sintaxe dos nossos sonhos ou com a dos contos infantis.
Assim, não temos nenhum critério para distinguir onde se encontra K. " realmente", se aquela promiscuidade é a maneira usual das coisas se misturarem quando sonhamos, ou se as cenas se passam fora da cabeça da personagem.
Tudo começa por um enigma, como o da esfinge de Tebas, para acabar na tragédia, como no final incompleto deste romance, ou com a precipitação da esfinge e o desenrolar do destino de Édipo.
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