segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O REAL INCANDESCENTE

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"Ainda bem que, sempre, os objectos que nos aparecem já desapareceram. Ainda bem que nada nos aparece em tempo real, nem sequer as estrelas no céu nocturno. Se a velocidade da luz fosse infinita, todas as estrelas estariam ali simultaneamente e a abóbada do céu seria duma incandescência insuportável."



 "O Crime Perfeito" (Jean Baudrillard)




Tudo é selectivo no pensamento. A ciência é selectiva, a história também. Mas o que parecia exclusivo desta disciplina que tem por objecto o passado aplica-se igualmente ao objecto presente/ausente da "actualidade".

Ao lançarmos a rede do pensamento, "tudo o que vem à rede é peixe", isto é, pensamento, separado do mar da existência.


Não suportaríamos a ausência do tempo (porque é isso que significa a simultaneidade), por isso a ilusão é o que maior força exerce nas nossas vidas. 


O "tempo real" da informação tem esse limite. Não resistiríamos a saber tudo ao mesmo tempo. No entanto, que diferença entre o "La Chine m'inquiète" da duquesa de Guermantes, em Proust, e as imagens do nosso desfasamento mediático (ou a entrada nas nossas casas da "Three Gorges").


Conta Platão que as almas, antes de reencarnarem, bebiam a água do Letes. Era essa água que punha os relógios a zero.

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