sábado, 14 de janeiro de 2012

O ANIMAL IMPROVÁVEL

 Omne_animal_post_Coitum



"Esta imagem antiga (da rede de Vénus) só deixa ver um aspecto do amor tal como o que se pode ter por uma bela escrava. Os antigos chamavam-lhe doença. É claro que as preocupações da família (trabalho, governo da casa, criação e educação) acalmam esta doença. Mas esta solução sem romanesco não agrada; não é suficiente; quando muito a pessoa resigna-se. E é o pouco de romance, no fundo, que suporta tudo o resto."
 
"La conscience morale" (Alain)
 
 
A natureza, o instinto, o desejo não chegam. Mesmo os mais refractários às coisas do espírito e que pretendem apenas desfrutar o que lhes coube em sorte precisam de pensar o amor acima do impulso mais básico.
 
Se o romanesco, como diz Alain, impede o amor de soçobrar em tudo que o nega, é porque a fealdade nos é insuportável. O homem, nem que o quisesse, não pode imitar o animal, porque o animal é puro. É o espírito que traz a contradição e a complexidade.
 
Podemos encontrar algo da inocência animal em personagens como o Woyzeck de Büchner ou o Moosbrugger de Musil, ambos, por sinal, assassinos que "julgam" a sociedade, mais do que esta os julga a eles.
 
Mas a violência no amor não é a marca dum desespero? E não se violenta ou se mata, muitas vezes, o que parece intangível e inconfundível com a "carne"? É, de facto, de outra fome que se trata. Fome que o animal nunca experimentará.

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