"Marie—Como
a lua nasce vermelha!
Woyzeck
—Como uma lâmina ensanguentada."
"Woyzeck"
(Georg Büchner)
A cena final da peça de Büchner faz-me
lembrar a atmosfera do "Deserto Vermelho" de Antonioni, filme em que
não se assassina ninguém, mas em que a paisagem industrial e o céu enfumarado,
o baixo contínuo das máquinas conspiram para desertificar as almas, como aqui,
para colocar um punhal nas mãos dum homem.
Há um momento em que toda a iniciativa
como que foi aspirada pela natureza que, depois de fazer balouçar o espírito do
pobre soldado, escreve no céu nocturno as palavras apropriadas ao rapto da
violência.
Woyzeck é um ser sem interior. O seu
monólogo é confuso como as dum actor embriagado que esqueceu as deixas.
A morte de Marie resulta dum encontro
de forças e parece que, aí, o assassino não é tido nem achado.
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