quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A LUA VERMELHA



"Marie—Como a lua nasce vermelha!
Woyzeck —Como uma lâmina ensanguentada."

"Woyzeck" (Georg Büchner)




A cena final da peça de Büchner faz-me lembrar a atmosfera do "Deserto Vermelho" de Antonioni, filme em que não se assassina ninguém, mas em que a paisagem industrial e o céu enfumarado, o baixo contínuo das máquinas conspiram para desertificar as almas, como aqui, para colocar um punhal nas mãos dum homem.

Há um momento em que toda a iniciativa como que foi aspirada pela natureza que, depois de fazer balouçar o espírito do pobre soldado, escreve no céu nocturno as palavras apropriadas ao rapto da violência.

Woyzeck é um ser sem interior. O seu monólogo é confuso como as dum actor embriagado que esqueceu as deixas.

A morte de Marie resulta dum encontro de forças e parece que, aí, o assassino não é tido nem achado.

0 comentários: