"A ordem por si só já é carismática."
(Rakhmiel Kogon, citado por Saul Bellow)
É natural que a ordem existente para quem almeje substituí-la por outra melhor, mais justa, ou simplesmente mais programática, tenda a fazer esquecer o significado da ordem em si.
O carisma que a ordem, nesse sentido, possui é o efeito imprevisível e incontrolável do facto da sociedade funcionar como um todo mais ou menos estabilizado e integrando, estruturalmente, as partes que o constituem.
É claro que todos os revolucionários que tiveram algum sucesso no seu empreendimento, com o desconjuntar da antiga sociedade, imediatamente procuraram lançar os desenhados alicerces da nova ordem.
Ao contrário da sociedade "natural" que é o resultado duma dialéctica histórica que nenhuma ideia inspira, a nova sociedade deve, "armada dos pés à cabeça", como Atena, sair da "coxa de Júpiter". A saúde de Lenine não resistiu e Prometeu deu lugar aos que impuseram a ordem a qualquer preço.
A violência do "parto" está na directa proporção do tempo necessário a que se verifique o efeito carismático da ordem.
Apesar do fracasso final da experiência, a sociedade soviética teve tempo de conhecer esse carisma. A "implosão" do sistema estava tanto nos seus genes, como a queda do império romano, isto é, não é matéria do conhecimento, mas da profecia.
Neste caso, é uma tentação usar do juízo retrospectivo. Mas quando é que temos todos os dados pertinentes para julgar o futuro?
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