Ao ver "Um método perigoso"
(2011, David Cronenberg), não consigo afastar a ideia de que o autor não soube fugir da
ilustração, a que não falta a frase famosa de Freud sobre a "peste"
que ele e Jung levavam consigo para a América, nem o sofá da Bergenstrasse, 19.
O confronto de ideias entre o pai da
psicanálise e Carl Jung desfavorece o primeiro, que nos parece mais o
proprietário e guardião das ideias do que o seu criador. Esse retrato pode até
não ser falseado, mas Jung, talvez pelo facto de ser o sujeito duma paixão
amorosa, tem um relevo mais humano.
A"transferência" dos afectos
de Sabina para o seu médico e a posição ética deste ao corresponder-lhe, são o
anunciado tema da história. Jung e Sabina deixam-se arrastar para uma relação
tórrida e mortificante para o psicanalista, até à ruptura provocada por este.
O "método perigoso" é a
vida. Assim como os actores que tanto mimam o amor, acabam por ser mais facilmente presas do amor e criaturas daquilo
que representam, o psicanalista que mima o interesse (que começa, decerto, por
ser "interessado") pelos problemas mais íntimos duma doente enfrenta
os perigos da "transferência".
Depois dos tempos heróicos da
psicanálise, terão sido encontradas soluções técnicas para este problema.
Mas Jung, no filme, faz jus ao
aforismo de que não se pode saber sem sofrer. O que nos leva a pensar que o
progresso técnico da arte psicanalítica abriu também as portas ao puro
charlatanismo.
1 comentários:
O filme é ruim em todos os sentidos. Abusa de clichês psicanalíticos e ainda por cima, ao final, afirma que Young tornou-se o maior psicólogo do mundo. Parece um novelão mal acabado e só convence a quem nunca ouviu falar nada sobre o assunto. Aliás, Freud morreu no início do século XX e Young teve muitos anos de vida além dele. Hoje, quem é Young no cenário mundial, além de um psicologozinho cheio de crenças, mitos e crendices?
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