Niklas Luhmann |
"A
autonomia que caracteriza a sociedade moderna não é, de facto, de modo nenhum,
uma autonomia dos seres humanos, mas a autonomia dos próprios sistemas. A
autonomia do sistema político não surge da capacidade de um sujeito ou vários
sujeitos deduzirem leis universais, às quais
os sistemas sociais deveriam obediência e que, logo, libertariam o
sistema político de obrigações externas. (...) Pelo contrário, Luhmann vê a
autonomia simplesmente como um pré-requisito contingente de um sistema social
que funcione. Os sistemas, sustenta, tornam-se autónomos tanto quanto aceitam
(ou encontram meios paradoxais de obscurecerem) a sua própria contingência,
tanto quanto reconhecem ( ou paradoxalmente obscurecem o facto) de que não
podem guiar-se por motivos externamente deduzidos, e consequentemente, tanto
quanto criam e comunicam a sua própria realidade como sentido plausivelmente
contingente."
"Niklas Luhmann's Theory of Politics and Law" (Michael King e
Chris Thornhill)
Os sistemas regem-se pelas suas
próprias leis estruturais e o papel da
"ideologia" é tornar esse funcionamento compatível com a ideia que temos
de nós e do mundo. No caso de ser demasiado "desumano", cabe-lhe
lançar "a nuvem de poeira" que o torne minimamente aceitável.
Quando vemos as proporções
catastróficas que atingiu a crise do sistema, a primeira coisa que salta aos
olhos é que não vai ninguém "ao leme". E que as várias
"narrativas" para explicar o fenómeno são outras tantas tentativas de
racionalizar e de tornar "digeríveis" os acontecimentos, tanto da
parte dos "fautores" da desordem como das suas vítimas ( ou melhor
dizendo, dos representantes destas).
É óbvio que o sistema deixou de
funcionar e que procura uma qualquer forma de estabilidade para se reformular,
seja o que for que pensem disso os seus ideólogos ou contra-ideológos.
Neste momento, a extrema contingência
do sistema tornou-se insuportável. E apenas se pode esperar que, à força de
novos e "paradoxais meios", essa contingência regresse a uma
aparência menos feroz. É a hora do capitalismo de "rosto humano".
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