quarta-feira, 30 de novembro de 2011

DECLARAÇÃO DA IGUALDADE



"(...) a igualdade não é um objectivo nem um programa, é um princípio ou uma afirmação, não se trata de crer que os homens são iguais, trata-se de declarar que os homens são iguais e tirar as consequências deste princípio."

Alain Badiou (Conferência de 2 de Junho de 2004, em Rosário, Argentina, sobre: "A ideia de justiça")


Caí sobre estas palavras, atribuídas a Badiou, e interrogo-me sobre a possibilidade duma declaração poder tornar-se acção política sem alguma espécie de crença. De resto, o que levaria os autores da declaração a fazê-la se não estivessem convencidos que, no essencial, todos os homens são iguais? Se é apenas pela utilidade do princípio, podia igualmente defender-se, por exemplo, que a escravatura assumida é a condição mais favorável ao capitalismo

De resto, a escravatura também não nasceu da declaração contrária. Os homens terão simplesmente tomado as situações de facto (como a de haver um forte e um fraco) pela vontade de Deus, por exemplo, o que significa sempre tomar o fenómeno pela essência.

A partir daí, pode acreditar-se que os homens só não são iguais porque têm destinos diferentes. O próprio Aquiles se concebia  na situação do escravo (preferível, segundo ele, à morte) , o que não seria possível se acreditasse que entre um "herói" e o mais ínfimo dos homens não existe nada em comum. E Platão, no "Menon", ao chamar o pequeno escravo para mostrar que também nele existem as "ideias inatas", não diz outra coisa.

Com a descrédito da ideia de destino e numa sociedade onde os deuses foram substituídos pela ideia de sistema e de "forças sociais", toda a diferença parece ser culpa dos homens.

Declarar a igualdade é, pois, consequência directa dessa culpa. Culpa que, porém, só é politicamente eficaz se não for de todos, e se se dividir a humanidade em vítimas e predadores (o que é paradoxal, se os homens são, de facto, iguais).

De qualquer modo, não é uma declaração anémica que movimenta as paixões duma sociedade desigual.

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