"(...)
a igualdade não é um objectivo nem um programa, é um princípio ou uma
afirmação, não se trata de crer que os homens são iguais, trata-se de declarar
que os homens são iguais e tirar as consequências deste princípio."
Alain Badiou
(Conferência de 2 de Junho de 2004, em Rosário, Argentina, sobre: "A ideia
de justiça")
Caí sobre estas palavras, atribuídas a
Badiou, e interrogo-me sobre a possibilidade duma declaração poder tornar-se
acção política sem alguma espécie de crença. De resto, o que levaria os autores
da declaração a fazê-la se não estivessem convencidos que, no essencial, todos
os homens são iguais? Se é apenas pela utilidade do princípio, podia igualmente
defender-se, por exemplo, que a escravatura assumida é a condição mais
favorável ao capitalismo
De resto, a escravatura também não
nasceu da declaração contrária. Os homens terão simplesmente tomado as
situações de facto (como a de haver um forte e um fraco) pela vontade de Deus,
por exemplo, o que significa sempre tomar o fenómeno pela essência.
A partir daí, pode acreditar-se que os
homens só não são iguais porque têm destinos diferentes. O próprio Aquiles se
concebia na situação do escravo
(preferível, segundo ele, à morte) , o que não seria possível se acreditasse que
entre um "herói" e o mais ínfimo dos homens não existe nada em comum.
E Platão, no "Menon", ao chamar o pequeno escravo para mostrar que
também nele existem as "ideias inatas", não diz outra coisa.
Com a descrédito da ideia de destino e
numa sociedade onde os deuses foram substituídos pela ideia de sistema e de
"forças sociais", toda a diferença parece ser culpa dos homens.
Declarar a igualdade é, pois,
consequência directa dessa culpa. Culpa que, porém, só é politicamente eficaz
se não for de todos, e se se dividir a humanidade em vítimas e predadores (o
que é paradoxal, se os homens são, de facto, iguais).
De qualquer modo, não é uma declaração
anémica que movimenta as paixões duma sociedade desigual.
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