quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A MULHER-VIOLONCELO


(Man Ray)

"O assunto da música foi discutido, e um Espanhol perguntou a Henriette se sabia tocar qualquer outro instrumento além do violoncelo. 'Não', respondeu. 'Nunca senti inclinação por qualquer outro. Aprendi o violoncelo no convento para agradar a minha mãe, que sabe tocá-lo muito bem, e sem uma ordem de meu pai, sancionada pelo bispo, a abadessa nunca me teria dado permissão para praticá-lo.' 'Que objecção poderia a abadessa fazer?' ' Essa devota esposa de nosso Senhor pretendia que eu não poderia tocar o instrumento sem assumir uma posição indecente.'"

"Memórias de Casanova"


A anedota tem a marca do grande libertino e "leva a água ao moinho" da sua paixão. Ele, que se confessa enamorado de Henriette, não podia sofrer a descoberta do seu talento de violoncelista, sem perder o "entusiasmo" (o eros casanoviano  é uma força que nenhuma arte pode valorizar).

Assim, e por uma retorcida táctica de reapropriação, serve-se da imagem das pernas abertas para destituir a artista e recuperar a sua obsessão narcísica.

Na "Cidade das Mulheres", Fellini apresenta-nos um Casanova moderno, mostrando a sua galeria de diapositivos, cada "nicho" com o seu som amoroso.

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