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"Somos
feitos de tal maneira que o melhor em nós é primeiro julgado como muito mau;
por exemplo, se uma criança se obstina e se fecha. Desde que ela descobre em si
esse tesouro do querer que só a ela pertence, de imediato se arma; e o primeiro
efeito é quase sempre uma espécie de maldade; porque ninguém ao princípio
acredita que ela poderá salvar a sua mais cara opinião sem violência, e a mais
pequena discussão mostra-o bem. De modo
que não ceder, que é a mais bela coisa, passa primeiro pela mais feia. E, pelo
contrário, os carneiros que ainda não encontraram o seu ser são naturalmente
preferidos, ainda que o pastor seja o mais sábio dos homens."
"Esquisses
de l'homme" (Alain)
Por que é tão fácil ceder a essa
espécie de prova que é a "maldade" da criança? Alain começa por dizer
que é assim que somos feitos. Isto é, não é por termos tido certa educação ou
frequentarmos determinado meio. O nosso "estofo" tem mais a ver com o
facto de nós próprios já termos sido crianças e que a nossa "visão do
mundo" começou por ser mágica. As palavras nunca perderam, para nós, essa
origem.
O espectáculo da teimosia numa criança
não se informa do futuro, mas das nossas próprias emoções. O sábio engana-se e
o instinto não pode ser tão esclarecido. Mas aqui se trava uma das primeiras
batalhas com significado para o desenvolvimento da criança. Aquele que viu,
desde o início, a sua vontade assim diabolizada, poderá tornar-se realmente
mau, ou abdicará do seu tesouro para se
juntar à "carneirada".
É verdade, todavia, que a nossa época
é mais propícia a uma desgraçada cedência dos pais que é tão prejudicial como a
diabolização. Uma vontade fortalece-se pela oposição que encontra. Neste
regime, até as crianças mais dotadas, vêem o seu querer degenerar em poder
abusivo.
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