quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ARMADILHA PARA OS SÁBIOS


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"Somos feitos de tal maneira que o melhor em nós é primeiro julgado como muito mau; por exemplo, se uma criança se obstina e se fecha. Desde que ela descobre em si esse tesouro do querer que só a ela pertence, de imediato se arma; e o primeiro efeito é quase sempre uma espécie de maldade; porque ninguém ao princípio acredita que ela poderá salvar a sua mais cara opinião sem violência, e a mais pequena discussão mostra-o bem.  De modo que não ceder, que é a mais bela coisa, passa primeiro pela mais feia. E, pelo contrário, os carneiros que ainda não encontraram o seu ser são naturalmente preferidos, ainda que o pastor seja o mais sábio dos homens."

"Esquisses de l'homme" (Alain)


Por que é tão fácil ceder a essa espécie de prova que é a "maldade" da criança? Alain começa por dizer que é assim que somos feitos. Isto é, não é por termos tido certa educação ou frequentarmos determinado meio. O nosso "estofo" tem mais a ver com o facto de nós próprios já termos sido crianças e que a nossa "visão do mundo" começou por ser mágica. As palavras nunca perderam, para nós, essa origem.

O espectáculo da teimosia numa criança não se informa do futuro, mas das nossas próprias emoções. O sábio engana-se e o instinto não pode ser tão esclarecido. Mas aqui se trava uma das primeiras batalhas com significado para o desenvolvimento da criança. Aquele que viu, desde o início, a sua vontade assim diabolizada, poderá tornar-se realmente mau, ou abdicará do seu  tesouro para se juntar à "carneirada".

É verdade, todavia, que a nossa época é mais propícia a uma desgraçada cedência dos pais que é tão prejudicial como a diabolização. Uma vontade fortalece-se pela oposição que encontra. Neste regime, até as crianças mais dotadas, vêem o seu querer degenerar em poder abusivo.

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