“Tive,
pois, de suprimir o saber para encontrar lugar para a crença, e o dogmatismo da
metafísica, ou seja, o preconceito de nela se progredir, sem crítica da razão
pura, é a verdadeira fonte de toda a moralidade e é sempre muito dogmática...”
(Kant, citado
por Jacques Taminiaux)
Não é o caso de toda a especialização
ter o preconceito de que pode progredir sem "crítica da razão pura"?
O facto é que o progresso, medido, pela sua eficiência e pela sua crescente
complexidade, existe diante dos nossos olhos, sem termos de nos pôr a questão
do seu valor epistemológico.
Num certo sentido, a ciência explora
ainda a superfície das coisas (estando-lhe vedado o nómeno kantiano), mas como
diz Musil, é aí que têm lugar as verdadeiras revoluções: "pode medir-se por isso o imenso poder criador da superfície,
comparado com a obstinação estéril do cérebro."
Tal como Kant, temos de abdicar do
saber para dar à moral, com a crença, uma fonte estável. Mas o progresso
imparável do conhecimento já é independente da "crítica da razão
pura", ou, no melhor dos casos, é apenas "criticado" pela
experiência.
Assim, o "saber"
aproximou-se enormemente da metafísica (a ciência é a melhor prova de si
mesma), o que lhe permite prescindir de toda a crítica filosófica.
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