É preciso ver "Nuovomondo"
(2006) de Emanuele Crialese, para perceber o que é o tão badalado, mas mal
compreendido "choque de culturas".
A família dos Mancuso abandona a pobreza da terra
siciliana, na miragem dos rios de leite e de mel americanos. O filme deixa-a na
Ilha de Ellis, a braços com os funcionários da imigração, sem terem ainda um
vislumbre da terra fabulosa, sofrem, depois dos abalões e da promiscuidade da
viagem, a arrogância dos Cérberos da Terra Prometida.
Fortunata, a mãe, símbolo duma sageza
ancestral, espécie de pitonisa da montanha, vê-se tocada e humilhada e todos os
seus "dotes" tratados como sintomas de debilidade mental. A América
não quer que ela contribua para a "degeneração" dos seus cidadãos.
As miragens têm, mesmo antes de
abordar Nova Iorque, o primeiro grande desmentido nas esperanças desfeitas
daquelas jovens que atravessaram o oceano (Luciano, como diz Salvatore, chefe
da família) para irem ao encontro do noivo que a sorte e a necessidade lhes
destinaram.
Os testes de inteligência e sanidade
física e mental impostos pelas autoridades aos imigrantes são prepotentes e
verdadeiramente patéticos. Falta-lhes a habilidade dos testes modernos que
alcançam os mesmos fins, mas precisam de convencer pessoas mais informadas.
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