"Deve-se
a Hobbes o primeiro esboço da Força, e do que se teve de chamar o direito da
Força. O forte governa; enquanto esta proposição não toma a forma dum axioma, é
a prova que permanece alguma confusão no espírito. Se se trata de acção
militar, é o vencedor que comanda; se se trata de acção industrial, é esse
outro vencedor, o rico. A experiência mostra que as constituições ambiciosas
não mudam nada aqui. Chamaremos ditadura temporária a esse regime da força inevitável,
que só é mau quando se crê evitá-lo com disposições de bela aparência."
"Abrégés
pour les aveugles" (Alain)
A ideia da força inevitável
entendemo-la bem na física. Quanto a uma necessidade a exercer a sua lei de
ferro na sociedade só a podemos levar, por exemplo, à conta da célebre "exploração do homem pelo homem". Há
sempre um autor moral da nossa infelicidade que, desde Marx, se corporizou na
ideia de sistema.
Não adianta argumentar que toda a
fortuna dos ricos, no nosso país, se distribuída por toda a população, não nos
tiraria de dificuldades. Primeiro, porque a dívida do país é muitas vezes
superior e, depois, porque com isso não se punha a economia a funcionar (não se
muda de regime de produção dum dia para o outro, como os bolcheviques
aprenderam; pelo caminho, por razões de segurança, a "revolução"
devoraria os seus filhos e tornar-se-ia mais "reaccionária" que a
situação anterior, excepto na linguagem).
Parece, pois, que a Banca
internacional que espalhou moeda virtual aos quatro ventos e foi capturada
pelos especuladores, nos venceu, como venceu a Europa. A Força obrigou-nos a
quebrar promessas e a recuar no que julgávamos serem direitos consagrados. A
nossa democracia está sob a escolta duma verdadeira guarda pretoriana
internacional. Como Cláudio escondido atrás do reposteiro, foi obrigada a aceitar
uma tutela ignorante em troca da miragem das antigas instituições, as "disposições de bela aparência".
Mas o seu nome mais adequado talvez seja o de "ditadura temporária”, a qual, no momento, respeita ainda as formas democráticas só por causa do contexto.
Ora, em nome da sanidade mental e dos
bons princípios, declaremos este regime um regime da Força. Ele vigorará até os actuais vencedores morderem o pó.
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