domingo, 13 de novembro de 2011

VAE VICTIS!




"Deve-se a Hobbes o primeiro esboço da Força, e do que se teve de chamar o direito da Força. O forte governa; enquanto esta proposição não toma a forma dum axioma, é a prova que permanece alguma confusão no espírito. Se se trata de acção militar, é o vencedor que comanda; se se trata de acção industrial, é esse outro vencedor, o rico. A experiência mostra que as constituições ambiciosas não mudam nada aqui. Chamaremos ditadura temporária a esse regime da força inevitável, que só é mau quando se crê evitá-lo com disposições de bela aparência."

 "Abrégés pour les aveugles" (Alain)



A ideia da força inevitável entendemo-la bem na física. Quanto a uma necessidade a exercer a sua lei de ferro na sociedade só a podemos levar, por exemplo, à conta da célebre "exploração do homem pelo homem". Há sempre um autor moral da nossa infelicidade que, desde Marx, se corporizou na ideia de sistema.

Não adianta argumentar que toda a fortuna dos ricos, no nosso país, se distribuída por toda a população, não nos tiraria de dificuldades. Primeiro, porque a dívida do país é muitas vezes superior e, depois, porque com isso não se punha a economia a funcionar (não se muda de regime de produção dum dia para o outro, como os bolcheviques aprenderam; pelo caminho, por razões de segurança, a "revolução" devoraria os seus filhos e tornar-se-ia mais "reaccionária" que a situação anterior, excepto na linguagem).

Parece, pois, que a Banca internacional que espalhou moeda virtual aos quatro ventos e  foi capturada pelos especuladores, nos venceu, como venceu a Europa. A Força obrigou-nos a quebrar promessas e a recuar no que julgávamos serem direitos consagrados. A nossa democracia está sob a escolta duma verdadeira guarda pretoriana internacional. Como Cláudio escondido atrás do reposteiro, foi obrigada a aceitar uma tutela ignorante em troca da miragem das antigas instituições, as "disposições de bela aparência". Mas o seu nome mais adequado talvez seja o de "ditadura temporária”, a qual, no momento, respeita ainda as formas democráticas só por causa do contexto.

Ora, em nome da sanidade mental e dos bons princípios, declaremos este regime um regime da Força. Ele vigorará até  os actuais vencedores morderem o pó.

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