terça-feira, 15 de novembro de 2011

O ROSTO


A esfinge de Gizé


"Quantos seres não contemplam dia após dia o mesmo rosto bem-amado, mas não sabem dizer, por pouco que fechem os olhos, como é que ele é."


"O Homem Sem Qualidades". (Roberto Musil)



Conhecer os rostos é como uma língua, e a língua dos rostos estranhos não sabemos falar. Perdemos a ciência dos detalhes logo que mergulhamos noutra raça. Um asiático, para nós,  é muito mais igual a outro do que um europeu.

Mas é verdade que mesmo um rosto "decifrado" muda a cada momento, conforme o ângulo, a sua disposição e a nossa, conforme a luz e o sentimento, etc.

Um rosto é assim uma promessa de reconhecimento, um acolhimento incondicional de todas as variações, como se os olhos fossem instruídos a repor a ordem do sentimento.

É por isso que uma fotografia é uma espécie de traição. Essa imagem dum momento sacrifica o "halo" duma totalidade que é habitualmente a nossa maneira de ver uma pessoa amada.

À falta da "presença" real, temos um "elo" da cadeia perdida no nosso coração.


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