"'-
Não compreendo. O que é que se passa?'
-'Espera
aí, ele não está ainda bêbedo! Uma garrafa para aqui.' disse Anatole, tirando
um copo da mesa e dirigindo-se a Pierre. 'Primeiro, tens de beber!'
Pierre
bebia copo atrás de copo, olhando pelo sobrolho para os convidados cambaleantes
que se reuniam outra vez junto da janela e ouvindo-os tagarelar. Anatole
continuou a encher o copo de Pierre enquanto explicava que Dolokhov tinha
apostado com Stevens, um oficial da marinha inglesa, que era capaz de beber uma
garrafa de rum sentado no peitoril da janela do terceiro andar, com as pernas
para fora.'"
"Guerra e
Paz" (Leão Tolstoi)
Para que Pierre compreendesse o que se
estava a passar em casa de Anatole, segundo este, tinha que se embriagar.
Nenhum homem razoável, se pensasse um
bocado, embarcaria numa coisa tão estúpida. Mas Pierre fê-lo e acabou a passear
um urso pelas ruas de S. Petersburgo. Dolokhov era o único que pensava, apesar
do rum emborcado. A aposta afirmava a sua superioridade e granjeava-lhe o dinheiro de que precisava. Ele era o
Mefistófeles daquela orgia.
Ora, é como Pierre que entramos em
certas atmosferas que acalentam a nossa fraqueza. Precisamos de nos intoxicar
primeiro para "compreendermos".
Todo o grupo exige a mesma senha. É
preciso "compreendê-lo", isto é, crer nos mesmos ídolos e dar valor aos mesmos símbolos, para “pertencer”.
Simone Weil queria acabar com os
partidos por causa desse "nós" do qual nos tornamos ventríloquos...
0 comentários:
Enviar um comentário