segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A FRAQUEZA DE PIERRE



"'- Não compreendo. O que é que se passa?'
-'Espera aí, ele não está ainda bêbedo! Uma garrafa para aqui.' disse Anatole, tirando um copo da mesa e dirigindo-se a Pierre. 'Primeiro, tens de beber!'
Pierre bebia copo atrás de copo, olhando pelo sobrolho para os convidados cambaleantes que se reuniam outra vez junto da janela e ouvindo-os tagarelar. Anatole continuou a encher o copo de Pierre enquanto explicava que Dolokhov tinha apostado com Stevens, um oficial da marinha inglesa, que era capaz de beber uma garrafa de rum sentado no peitoril da janela do terceiro andar, com as pernas para fora.'"

"Guerra e Paz" (Leão Tolstoi)



Para que Pierre compreendesse o que se estava a passar em casa de Anatole, segundo este, tinha que se embriagar.

Nenhum homem razoável, se pensasse um bocado, embarcaria numa coisa tão estúpida. Mas Pierre fê-lo e acabou a passear um urso pelas ruas de S. Petersburgo. Dolokhov era o único que pensava, apesar do rum emborcado. A aposta afirmava a sua superioridade e granjeava-lhe  o dinheiro de que precisava. Ele era o Mefistófeles daquela orgia.

Ora, é como Pierre que entramos em certas atmosferas que acalentam a nossa fraqueza. Precisamos de nos intoxicar primeiro para "compreendermos".

Todo o grupo exige a mesma senha. É preciso "compreendê-lo", isto é, crer nos mesmos ídolos  e dar valor aos mesmos símbolos, para “pertencer”.

Simone Weil queria acabar com os partidos por causa desse "nós" do qual nos tornamos ventríloquos...

 

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