"A Greve" (Serguei Eisenstein) |
Como se pode medir o sucesso duma
greve? A tarefa será tanto mais fácil se o número de adesões for erigido em
único critério. Mas, assim, ela teria o fim em si mesma, o que não deixaria de
ser estranho, face ao enorme esforço despendido e aos custos para a economia.
Além disso, as expectativas criadas pela greve passariam para segundo plano,
relevando-se apenas o êxito dos organizadores.
Numa situação como a que vivemos hoje,
a greve tem todas as condições para vencer e convencer no plano táctico, ao
mesmo tempo que, estrategicamente, parece não ter nenhuma e a própria escolha
do "adversário" ser tudo menos clara. Com efeito, contra quem é esta greve?
Contra a Troika, contra o governo que é o seu "pau mandado", contra a
UE, ou contra o "sistema"?
É evidente, pelos resultados eleitorais
das últimas décadas, que o sistema não está em causa para os que votam nos
partidos do chamado "arco governamental". E, para os outros, a
alternativa ainda não saiu da coxa de Júpiter. A adesão tem pois um motivo
"economicista"; é a resposta possível (proporcionada pelo sistema) à
política de austeridade e aos sacrifícios impostos pelos credores.
A democracia, é claro, permite tanto
as greves eficazes (no sentido de que desbloqueiam uma situação, ou impõem uma
alternativa credível) como aquelas que, apesar de não terem qualquer
eficácia em termos práticos e poderem até agravar os problemas, dum certo ponto
de vista, caem no âmbito do direito de expressão.
Uma greve que não pode designar um
objectivo concreto (que é o caso de todas as que são, no fundo, contra o
"sistema") e não apresenta nenhum critério de sucesso realista, para
além do número de grevistas, corresponde ao exercício do direito de protesto. Batem-me,
mas eu tenho o direito de dizer ai!
Esta maneira de ver peca, talvez, por
ser demasiado estreita. Porque é ao nível do sistema político e social que é
preciso decidir do carácter duma greve
geral.
Já outros notaram, de paragens inesperadas
- ou talvez não -, o papel positivo da
organização do descontentamento. Devemos pensar na economia de violência e
irracionalidade, onde o civismo é tão fraco como entre nós, que representa uma
greve geral como esta. Se ainda por cima a adesão é tão grande, só podemos
regozijar-nos com o êxito da organização.
Por outro lado, não sabemos, quando
fazemos um movimento, por pequeno que seja, se estamos a desencadear algum
"efeito borboleta". Pode ser para pior, mas seríamos muito pobres em
coragem se só nos mexêssemos com todos os trunfos na mão.
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