“Um
homem vive uma profunda eternidade que se fecha
sobre
ele, mas onde o corpo
arde
para além de qualquer símbolo, sem alma e puro
como
um sacrifício antigo”
“A colher na
boca” (Herberto Helder)
É essa separação do
corpo e da alma que é difícil de conceber. Talvez mais difícil ainda do que a
sua união, eterno problema da filosofia antiga.
O pensamento radical
de Descartes levou-o a imaginar uma glândula, coisa estritamente física, para
fazer a ligação. Hoje, podemos troçar da ideia, mas esse foi o início duma
busca que não mudou ainda de método nem de direcção.
A teoria da
informação, é certo, leva-nos a conceber o espírito como uma espécie de rede (
e talvez tenhamos que integrar na sua ideia os paradoxos quânticos), mas tudo isso
está para a física moderna, como a glândula pineal estava para a mecânica do
século XVII.
Nem o símbolo cristão
que faz do corpo do crente um templo vai tão longe quanto a imagem do poeta de
um corpo puro e sem alma. E, através dessa imagem, é o mistério do próprio
universo que se incarna. Qualquer que seja o nosso comportamento e os mapas que
nos guiam na exploração do corpo, ele é-nos tão próximo como uma estrela.
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