“Àqueles
que podem ouvir-me, digo-lhe: ‘Não desespereis. A desgraça que nos caiu em cima
não é mais do que a passagem da ganância, a amargura dos homens que temem o
caminho do progresso humano. O ódio dos homens passará e os ditadores morrerão,
e o poder que arrebataram ao povo voltará ao povo. E enquanto que os homens
morrem, a liberdade não perecerá jamais.’”
“O Grande
Ditador” (1940) de Charles Chaplin
O final do “Grande Ditador”
é uma surpresa para toda a gente e não parece fazer parte do filme. Dir-se-ia
uma solução como a que os Gregos inventaram no seu teatro: o “Deus ex machina”.
O barbeiro judeu,
incarnando o personagem de Hynkel, faz um discurso aos povos a favor da paz
universal, evitando, assim, que o que começou como comédia (a cena do canhão
anti-aéreo) acabe como tragédia. O discurso de Hynkel é um sonho a que faltou o
despertar ( e é o despertar que "faz" o sonho). Faltou o amanhecer no gueto ou no campo de concentração. Nunca mais
se voltou a fazer nada de parecido, porque é contra a própria sintaxe. É como a
distribuição de panfletos dentro do espectáculo. Quanto mais eficaz não é o ataque
aos ridículos do ditador!
O discurso é como se
o “clown” tivesse perdido fé na sua arte.
Se pensarmos no quão desiludido com a incompreensão do público americano,
depois dos escândalos e da perseguição política de que foi alvo, essa hipótese
parece-me muito razoável. Calvero, mais tarde, em "Luzes da Ribalta" enfrentará o momento da descrença total perante a sala vazia.
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