quarta-feira, 13 de julho de 2011

O CRISTO DE MAINERI



Gian Francesco Maineri (1489/1506)


A suavidade da pintura num tema tão cruento é quase escandalosa. As mãos parecem segurar um instrumento de música e não um lenho pesado, e a sombra que tudo envolve fez desaparecer todos os ângulos e toda a aspereza. É a doçura do sono (não poderia a cruz ser, na realidade, um travesseiro?) que o pintor consegue extrair do caminho do sofrimento, com aquele Cristo de olhos fechados.

O quadro podia, assim, ser uma aberração lógica. Não é. Impõe-se-nos, no seu irrealismo, pela técnica, pelo quase sfumato, como um objecto delicado. O Cristo, com os raios de sangue na fronte, é amável.

Como nos versos do “Fado Malhoa”, gostaríamos de achar uma rima para um “ismo” e uma cidade.

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