Gian Francesco Maineri (1489/1506) |
A suavidade da
pintura num tema tão cruento é quase escandalosa. As mãos parecem segurar um
instrumento de música e não um lenho pesado, e a sombra que tudo envolve fez
desaparecer todos os ângulos e toda a aspereza. É a doçura do sono (não poderia
a cruz ser, na realidade, um travesseiro?) que o pintor consegue extrair do
caminho do sofrimento, com aquele Cristo de olhos fechados.
O quadro podia,
assim, ser uma aberração lógica. Não é. Impõe-se-nos, no seu irrealismo, pela
técnica, pelo quase sfumato,
como um objecto delicado. O Cristo, com os raios de sangue na fronte, é amável.
Como nos versos do “Fado
Malhoa”, gostaríamos de achar uma rima para um “ismo” e uma cidade.
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