quinta-feira, 7 de julho de 2011

O SER LIMITADO E DEPENDENTE

Sacrifício



“Os Gregos nunca atribuíram valor ao sofrimento em si, como fazem certos doentes da nossa época. A palavra escolhida para designar o sofrimento é πáФος, que evoca sobretudo a ideia de suportar, mais do que a ideia da dor. O homem tem de suportar aquilo que não quer, tem de ser submetido à necessidade. As desgraças deixam feridas que sangram gota a gota mesmo durante o sono; e assim, gradualmente, amestram o homem pela violência e predispõem-no contra a sua vontade à sabedoria, a qual se define pela moderação. O homem deve aprender a pensar-se a si próprio como um ser limitado e dependente; só o sofrimento lho ensina.”

“A Fonte Grega” (Simone Weil)



Continuamos limitados e dependentes, mas o fogo roubado por Prometeu aos deuses leva-nos a pensar o contrário. Qual é o limite que se apresenta ao empreendimento científico ou ao desenvolvimento do “bem-estar” (quando todos receberem de acordo com as suas necessidades, enfim, para sempre libertos da “economia”)?

Claro que o sofrimento, desse ponto de vista, é um escândalo e poderemos sempre sonhar com uma revolução enquanto houver sofrimento à superfície da terra.

Não era assim que os Gregos pensavam e, infelizmente, não podemos vislumbrar o significado desse passado nos actuais ocupantes do seu território. A Grécia moderna é muito mais parecida connosco do que com esse povo quase mítico.

Mas há uma passagem perigosa daquela ideia do sofrimento para a nossa própria concepção. É que, entretanto, existiu e existe ainda uma certa tradição dolorista ligada ao cristianismo que parece valorizar o sofrimento em si, como mortificação e prova para merecer o céu. Como, em comparação, era enxuta e viril a ideia do destino entre os Gregos!

É demasiado fácil dizer-se que foi uma classe apenas que levou a Grécia de hoje ao estado em que se encontra, pelos seus excessos e pela sua falta de moderação. Quando se faz uma leitura destas, sugere-se que os Gregos, com uma mudança de elites, poderiam conquistar a sua “libertação” da condição humana, os tais limites e a tal dependência…

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