Sacrifício |
“Os
Gregos nunca atribuíram valor ao sofrimento em si, como fazem certos doentes da
nossa época. A palavra escolhida para designar o sofrimento é πáФος, que evoca
sobretudo a ideia de suportar, mais do que a ideia da dor. O homem tem de
suportar aquilo que não quer, tem de ser submetido à necessidade. As desgraças
deixam feridas que sangram gota a gota mesmo durante o sono; e assim,
gradualmente, amestram o homem pela violência e predispõem-no contra a sua
vontade à sabedoria, a qual se define pela moderação. O homem deve aprender a
pensar-se a si próprio como um ser limitado e dependente; só o sofrimento lho
ensina.”
“A Fonte Grega”
(Simone Weil)
Continuamos limitados
e dependentes, mas o fogo roubado por Prometeu aos deuses leva-nos a pensar o
contrário. Qual é o limite que se apresenta ao empreendimento científico ou ao
desenvolvimento do “bem-estar” (quando todos receberem de acordo com as suas
necessidades, enfim, para sempre libertos da “economia”)?
Claro que o
sofrimento, desse ponto de vista, é um escândalo e poderemos sempre sonhar com
uma revolução enquanto houver sofrimento à superfície da terra.
Não era assim que os
Gregos pensavam e, infelizmente, não podemos vislumbrar o significado desse
passado nos actuais ocupantes do seu território. A Grécia moderna é muito mais
parecida connosco do que com esse povo quase mítico.
Mas há uma passagem
perigosa daquela ideia do sofrimento para a nossa própria concepção. É que,
entretanto, existiu e existe ainda uma certa tradição dolorista ligada ao
cristianismo que parece valorizar o sofrimento em si, como mortificação e prova
para merecer o céu. Como, em comparação, era enxuta e viril a ideia do destino
entre os Gregos!
É demasiado fácil
dizer-se que foi uma classe apenas que levou a Grécia de hoje ao estado em que
se encontra, pelos seus excessos e pela sua falta de moderação. Quando se faz
uma leitura destas, sugere-se que os Gregos, com uma mudança de elites,
poderiam conquistar a sua “libertação” da condição humana, os tais limites e a
tal dependência…
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