Paul Éluard (1895/1952) |
“Cada
um é a sombra de todos.”
(Paul Éluard)
Mas em que vida é que
esse todos aparece como um corpo que projecta a sua sombra?
Homero também falava
em sombras para se referir aos mortos. E Aquiles, no Hades, preferia ser
escravo do seu escravo a continuar uma sombra.
Será a nossa
existência individual tão irrelevante ou, como pretende a opinião contrária, é
a única verdadeira porque, precisamente, o todos é que é a sombra das vidas
individuais? Ora, já dizia Comte que os vivos são governados pelos mortos, o
que é uma maneira de dizer que o passado
nos governa. Mesmo o indivíduo tem uma história de sombras que nunca
abdicaram do poder. Não foi preciso descobrir os traumas da infância para admitir
que o passado “mexe”, em nós, “os cordelinhos”.
Tudo isto não move o
debate numa polegada que seja. Por um lado, a ideia de que não somos a “realidade”,
o corpo na luz, é platónica e, no fundo, religiosa. Por outro, foi com argumentos
desses que se encheram os Gulags em nome do futuro. A essa luz, aquele verso do
poeta militante pode ser sinistro.
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