“Ninguém
viu entrar o grande Príamo. Deteve-se, cingiu os joelhos de Aquiles, beijou-lhe
as mãos, terríveis, assassinas, que tantos filhos lhe tinham massacrado.”
“A Ilíada”
(segundo tradução de Simone Weil)
Os grandes fazem-se
anunciar antes de entrar. A majestade não pode passar desapercebida, não só por
causa do seu prestígio, mas porque o estilo do homem se adapta ao que se espera
dele. A coroa e o manto impedem os movimentos bruscos, como dizia Alain, e essa
ideia, no seu extremo, aproximaria o majestático da imobilidade. Era essa
imobilidade que, segundo os antropólogos, era imposta ao chefe, por certos
povos.
E vem-nos logo à
memória “Kagemusha”, o grande filme de Akira Kurosawa, em que o chefe do clã,
que já não é ele, continua a produzir o símbolo da unidade e do poder à vista
de todos os guerreiros.
Por isso, o início do
verso de Homero é tão eloquente na sua miraculosa simplicidade: “Ninguém viu entrar o grande Príamo.”
Esse homem estava, de facto, reduzido à qualidade do grave que cai sobre a
terra, despido de todos os adornos e de todos os poderes. Era um suplicante. E
que pedia ele? A vida do seu filho Heitor? Não, apenas o resgate do seu
cadáver, porque o homem não desaparece com o último sopro.
0 comentários:
Enviar um comentário