quinta-feira, 21 de julho de 2011

O DESPREZO DO OUTRO

A loba de Roma



"Os Romanos e os Hebreus julgaram-se, uns e outros, livres da comum miséria humana, os primeiros enquanto nação escolhida pelo destino para ser a dona do mundo, os segundos pelo favor do seu Deus e na exacta medida em que lhe obedeciam. Os Romanos desprezavam os estrangeiros, os inimigos, os vencidos, os seus vassalos, os seus escravos; por isso não tiveram nem epopeias nem tragédias. Substituíam as tragédias por jogos de gladiadores. Os Hebreus viam na infelicidade o sinal do pecado e consequentemente um motivo legítimo de desprezo (...)"

"A Ilíada, ou o poema da Força" (Simone Weil)




Simone tem um parti pris contra os Romanos ( e contra o seu próprio povo, sendo judia) que, por exemplo, Hanna Arendt não tem. Ninguém valorizou tanto a tradição, a ponto de contar o tempo a partir da fundação da cidade, como esses mesmos que substituíram a grande poesia pelos jogos do Coliseu, como ela diz.

Mas o desprezo de tudo o que não fosse romano, parece-me justo assacar aos conquistadores do mundo. Podemos encontrar, mais perto de nós, esse mesmo sentimento nos Ingleses que dominaram a Índia até 1942. O capitão Merrick, na série da BBC "The jewel in the crown", é um bom exemplo.

O que é menos reconhecido são os efeitos desse desprezo nos que estão em posição dominante. É pouco dizer que recebem aquilo que fizeram ou pensaram em mesquinhez e estreiteza da alma (a estratégia de sobrevivência do subjugado passa pela camuflagem e por se fazer passar pela imagem imposta pelo dominador). A Índia não podia, pois, ser conhecida, mesmo pelos ingleses mais apaixonados pela sua "paisagem" natural e humana. A táctica de Gandhi teve essa "décalage" em grande conta.

Quanto aos Romanos do século XX, isto é, os Americanos, só podemos admirar a diversidade e a complexidade da sua teia de dominação que, apesar das aparências, desde há muito tempo remeteu a canhoneira e a ocupação sem disfarce para o museu da história. A cultura é muito mais eficaz e a sua influência nem sequer pode ser controlada, o que permitirá a boa consciência ao imperialismo mais lúcido.

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