Régis Debray |
“Hoje
em dia, a imprensa da corrente dominante, produto dum conglomerado mediático,
está concebida como uma caixa negra. Os acontecimentos entram e a informação
sai. Um periódico de classe ou de partido tem um papel bem diferente:
transformar uma concepção do mundo em pequenas mudanças, um sistema filosófico
num lema quotidiano. Os acontecimentos são centralizados pela, e sob, a ideia,
as energias individuais pela liderança. Em contraste com o periódico como
espelho da realidade, o periódico como guia cumpre o papel que foi atribuído
por Kant ao esquema: intermediário e intérprete entre o conceito puro e a
aparência das coisas.”
“O socialismo
e a imprensa – um ciclo vital” (Régis Debray)
A caixa negra de que
fala Debray podia ser a chamada linha editorial ou a ideologia do patrão, mas
assumidas sem simplismos tácticos, interiorizadas e inconscientes, se possível.
Por certos indícios, o jornalista sabe que está a “pisar o risco”, mas nenhum
silogismo esclarecerá a coisa.
Por outro lado, a
imprensa como “espelho da realidade” é uma metáfora que indica, no melhor dos
casos, uma intenção.
Facto curioso em
relação aos jornais de partido é que o “esquema”, isto é, a mobilização dos
factos pelo conceito puro, raramente seja consciente. Isso acontece porque não
estamos em presença de verdadeiros leitores, mas de quem escreve (e se
inscreve) num simulacro de acção política, e que, justamente, encontra nesses periódicos
o “fio da narrativa”.
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