“Não
consumir é uma pequenina paragem do coração, que mal se sente.”
“Uma Viagem à
Índia” (Gonçalo Tavares)
A “volta dos tristes”
corresponde a essa pequena falha somática. É o regime dos que, cercados por ecrãs
ou “outdoors” e galerias com montras reais ou virtuais, estão impedidos de
consumir.
A “volta dos tristes”,
uma geração atrás, era ao ar livre e podia acabar diante das franjas do
Atlântico. Escusado será dizer que as tentações eram muito menores e a ínfima
paragem do coração esquecia-se depressa.
Um “shopping-coliseu”
é outra coisa, porque se tornou, ele próprio, a paisagem e o ar livre. Duma
forma não prevista por Bentham, é uma aplicação do Panóptico. No final do dia, ficou
o registo de todas as paragens e de todas as “batidas do coração”.
Dizem-nos que vamos
ser obrigados a viver de outra maneira por causa da conspiração mundial dos
agiotas (felizmente que não se trata, desta vez, duma raça maldita, mas de
simples predadores). Mas parece-me que esses não conhecem a expressão “matar a galinha dos ovos de oiro”. Ou
pensam realmente que o dinheiro gera dinheiro?
0 comentários:
Enviar um comentário